Partindo da suposição de que eu sou uma mulher totalmente desacreditada e ignorante no assunto sobre príncipes encantados alego “Ok, eu não acredito em príncipes.” Aí vocês muitos céticos me perguntam “Porque?” Aí então...
“E viveram felizes para sempre!” Quando eu era pequena eu ouvia a história de príncipes encantados. A princesa estava em perigo, e o amor era a sua única salvação, o príncipe aparecia e tudo tinha um final feliz, com pássaros cantando, bules falando e cavalos brancos alados. Hoje em dia, acho mais fácil encontrar um bule que converse, um passarinho cantando Frank Sinatra e voar nas costas de um cavalo branco do que encontrar um príncipe encantado. Não que os príncipes não existam, o problema é que eles perderam o encanto! O que fazia um príncipe ser encantado? Seu cavalo branco (sendo ele alado ou não)? Sua ligação com a realeza? Seus milhões? Seu corpo bonito? Sua roupa justa e sua capinha? Não, não. O que o fazia ser era o seu encanto. E encanto não se compra, não se adquire, ou se tem ou não se tem, não tem meio termo. Não há príncipes quase encantados, e a única coisa que você ganha beijando sapos esperando que eles virem príncipes é “sapinho”, às vezes, literalmente.
Os tempos passaram e os príncipes mudaram. Largaram os cavalos brancos e agora querem surgir montados em Ferrari ou Honda. Esqueceram de matar o Dragão para salvar o amor e passaram a pegar tudo quanto que é "dragão" que surge na reta. Trocaram a calça justa e a capa por roupinhas de playboyzinho compradas em qualquer Vide Bula da vida. Deixaram de colecionar virtudes e batalhas vencidas contra o mal para somar amores de uma noite. Tornaram-se tão dignos que não dá para saber se é melhor amar a bruxa ou o príncipe.E não adianta jogar as tranças, comer a maça, cantar à beira mar, porque eles só vão olhar para você se suas formas compensarem meia hora de diversão. Romantismo? Jamais! Caso demonstre alguma ponta de romantismo você será chamado de pegajoso, grudento, ultrapassado, e perderá seu "príncipe". Agora, a maioria é assim, mas não são todos. Em algum lugar, em algum canto deve haver ainda os príncipes encantados. O negócio é "dar faxina no seu castelo", ajudar todos "anões" que surgirem pelo caminho, ensinar as "feras" a ler, até encontrar o príncipe encantado.
O que transforma um homem vulgar no nosso príncipe é ele querer ser o homem da nossa vida. E há alguns que ainda querem. Podem parecer menos empenhados ou sinceros do que os antecessores, mas aquilo a que chamamos hesitação ou timidez talvez seja apenas uma forma de precaução para ter a certeza que não se vão enganar. Podem ser românticos ou pragmáticos, podem oferecer rosas, cd ou chocolates, mas têm sempre um gesto, uma atenção e nunca se atrasam, porque sabem sempre como mostrar o seu amor. Citando Shakespeare: «They do not love that do not show their love». E o amor foi feito para ser mostrado, dentro e fora da cama.
O príncipe Encantado é o homem que nos tapa os ombros com o lençol a meio da noite quando temos frio e se levanta às três da manhã para nos fazer um chá de limão quando ficamos doentes. É aquela pessoa que tem sempre tempo para os nossos problemas. Não é o que diz ‘amo-te’ vinte vezes por dia, mas o que sente que nos quer amar nos próximos 20 anos. É alguém que olha todos os dias para nós, mas que também olha por nós todos os dias. Que tem paciência para os meus, os teus, os nossos filhos e que ainda arranja um lugar na mesa para os filhos dos outros. Ele até pode só saber cozinhar o básico, mas faz os melhores ovos mexidos do mundo e vai à padaria num feriado. É um Príncipe porque governa um reino, porque sabe dar e partilhar, porque ajuda, apoia e nos faz sentir que somos mesmo importantes.
Depois de engolir alguns sapos, há que aprender a lição e perceber que o Príncipe pode estar ali mesmo, à nossa frente. É só preciso deixá-lo ficar um dia atrás do outro... e se for mesmo ele, fica. De pedra e cal, para a vida, dê por onde der, aconteça o que acontecer.
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